quarta-feira, fevereiro 25, 2009

A troca e o meu bambino

Madrugada da quarta-feira de cinzas. Voltei do cinema, depois de ver A troca, com a Angelina Jolie e o John Malkovitch. Filmão, daqueles que deixa a gente mais angustiado do que triste (embora a história seja de matar) e felizes por ver que a Angelina não apenas continua linda, mas virou uma grande atriz. Ela está tão bem e tão íntegra no papel, que nem parei pra pensar nela como uma mulher (im)possível e desejável - ficou sendo apenas uma mãe, desesperada para reencontrar o filho.

Talvez por conta do tema do filme (perda de um filho), voltei pra casa e lembrei de um poema que escrevi anos atrás. É sobre meu filho, que ainda não existe. Toda vez que leio algum texto meu tenho vontade de mudar, mas por uma questão de conceito, resisto. Segue abaixo o texto original, do jeito que deixei em 2002, quando o escrevi. Espero que gostem...

Bambino por vir
— Para meu filho (em fase de pré-projeto)

ele é gordinho e levado,
como o pai infante,
o rosto redondo e corado,
como do pai adolescente,
a pele branca, alabastro,
como do pai de sempre...
(da mãe lhe são os olhos d’água
e tudo que traz dentro do peito e cabeça...)

adora música
(herança congênita ou genética?),
e sorri em minha direção,
depois da fralda limpa,
sorriso lindo,
alegria como dentes pois estes não os tem,
e me abraça apertado,
como o nó que me põe na garganta
quando pronuncia (errado) meu nome
ou quando dança (desengonçado) ao meu som preferido...

ele é forte —saúde férrea!
é valente —coragem de aço!
é lindo —beleza cristalina da pedra mais preciosa que houver...
é tudo isso e mais aquilo que exista
de bom,
de positivo,
de sublime,
pois é meu filho!

que ainda não vive,
não habita minha casa,
nem me tira o sono na noite em que deste mais preciso...
pode ser o oposto do que digo ser,
ser até o contrário do que quero crer,
pode mesmo não ser ele, mas ela,
e ainda será divino,
o perfeito bambino,
que um dia pretendo ter...

(por hora,
é ele que me beija a testa antes de eu ir dormir...)

São Paulo, 22 de Outubro de 2002

5 comentários:

mélis disse...

Jackety-do-céu! eu tiiinha um coração que acabou de virar carne moída (de mince) nesse post aqui.

Silvinha disse...
Este comentário foi removido pelo autor.
Silvinha disse...

que lindo giacca!
mais um daqueles que eu vou ficar relendo mil vezes. igual o da bisavó desse bambino aí...

Plinio Bolognani disse...

é... Uma vez Giachetta, sempre Giachetta.

Show de bola!

Thunderstorms, dreams and conversations disse...

Q "fofo" Gicca.
Curti muito.