quarta-feira, março 09, 2011

Carnaval faz isso com as pessoas

Sou daqueles que adora o Carnaval pelo feriado e pela tranquilidade da cidade, não pela folia. Mas é difícil ter argumentos contra a festa, já que tanta gente se diverte e se emociaona.

No entanto, achei dois viriais, aqui reproduzidos, que demonstram por que o Carnaval é uma festa no mínimo pouco criativa. Afinal, dá para fazer um samba-enredo sobre literalmente qualquer porcaria, mesmo que não tenha sentido algum.

Vejam primeiro o vídeo original de um maluco, lunático, que argumenta de forma eloquente e idiota sobre sua origem, como se ele fosse uma espécie de descendente de uma linhagem sinistra, difícil de entender. Reparem bem nos detalhes do discurso do demente.



Depois, vejam a criação de algum desocupado que transformou a maluquice em samba-enredo. Se passasse na TV eu seria capaz de achar que é um samba de verdade.

sábado, março 05, 2011

Teorizando sobre a vida de casal (com um pouco de culinária)

Quem me conhece sabe que gosto de comer bem e bastante. Sabe também que cozinho direitinho e há muito tempo. Não por ter sido uma espécie de mestre cuca mirim, mas porque em casa tanto meu pai como minha mãe estavam sempre entre panelas e caçarolas, e a referência masculina na cozinha era constante para mim e para meu irmão.

Como gourmand (usando os dois significados possíveis, o de apreciador de alta gastronomia e o de glutão), assisto a vários programas de culinária, sempre aprendendo algo novo (ou amplificando meu apetite). Num desses programas, mais cômico do que prático, o Claude Troiglos conduz uma espécie de concurso de novatos na cozinha e os ensina, um por programa, a preparar um prato específico para o chef e para a família do candidato ou candidata. Quem prova, avalia e critica o cozinheiro aprendiz, além conta casos interessantes e embaraçadores.

Embaraçador mesmo, ao meu ver, mais do que qualquer desastre durante o preparo do prato, é a exposição de mazelas horríveis de alguns casais. Aconteceu no episódio da Lazanha de Coelho, em que uma garota de seus vinte e poucos anos tenta conquistar o noivo, de idade semelhante, a casar-se com ela logo. O motivo é que o noivado desse casal de Porto Alegre tem se estendido demais porque o rapaz se recusa a abandonar a mãe, cozinheira de mão cheia, pela noiva, que tem grande dificuldade na manipulação de alimentos, temperos e utensílios culinários.

Achei meio patético esse casal. Sei que havia nessa história muito de brincadeira, que eles pareciam felizes e compatíveis, mas todos os depoimentos eram consonantes e pareciam verdadeiros no sentido de haver uma cobrança por determinada distribuição sexista de tarefas. O rapaz diz que não faz sentido abandonar uma casa onde se alimenta bem para ir morar com a noiva incapaz de fornecer refeições à altura de sua expectativa. Diz que a mãe tem que preparar comida para ele levar, quando é dia do casal passar a noite juntos. Ou então ele faz um "lanche" antes de jantar com ela. Argumenta que "homem gosta de comer bem, que uma mulher que cozinhe bem tem algo a mais". E a moça entende o pedido, acha normal. Acredita que precisa mesmo aprender a criar pratos que agradem o noivo, como se isso fosse sua única credencial para o casamento. Sua única defesa confirma a necessidade imposta: "ele não vai casar com a mãe dele, vai ter que se acostumar a comer a minha comida".

Sei que os gaúchos são ainda muito provincianos e que isso é apenas TV, mas ainda vejo muita gente, nos dias de hoje, ecoando esse modelo arcaico de distribuição rígida de tarefas entre o casal. E as pessoas não se esforçam nem para mudar, nem para esconder esse comportamento detestável. O importante, no caso do programa, foi o desfecho: ela conseguiu que ele concordasse publicamente em se casarem dentro de um ano, próximo das férias dele, quando fariam a lua-de-mel num lugar dos sonhos. Dos sonhos dele, que queria ver o Internacional jogando uma final, sei lá onde... Agora sim, um casal bem resolvido.