sexta-feira, junho 26, 2009

Descobertas na morte

- Caraca, você viu quem morreu?
- Vi. Mas também, já era hora...
- Que isso! Não pecisa falar assim...
- Ah, era muito sofimento o que vinha acontecendo nos úlimos anos.
- Os artistas passam seus perrengues também...
- Na década de 70, eu ficava louco quando via aquela verdadeira "menina" na TV...
- Ih, rapaz, não tô te teconhecendo... tu eras chegado na "menina", é??
- Porra, claro! Aquela delícia! Mas naquela época, não recentemente. Nos últimos anos perdi o tesão total.
- Caraca, não conhecia esse teu lado boiola. Assumiu, então? Gostava daquela "delícia nos anos 70" e agora perdeu o "tesão pela menina"... Tu es boiola mas es cruel! Só porque envelheceu e começou a sofrer com a doença não interessa mais, pode morrer... é isso??
- Não é isso. É que a morte abreviou o sofrimento de todo mundo. Dos amigos, da família, do fãs... e dela mesmo...
- Haha... bichona!!
- Bichona é você! Eu adorava aquela deusa!
- Cara, pode pelo menos respeitar a pessoa morta? Não chama mais de "ela" o cara que foi um ícone da música pop mundial...
- Anh? A gente não tava falando da Farrah Fawcett??
- Não, animal. Do Michael...
- Pô, foi mal.
- Mal aê, também.
- ...

terça-feira, junho 23, 2009

Duro e sensível

- Aí, véi, vamo pra balada?
- Nem, hoje não rola, vou ficar de molho. Tem final do torneio brasileiro de jiu-jitsu amanhã. Se eu ganhar tô classificado pro mundial. É capaz de eu conseguir acesso aos Gracie, de repete rola uma vaga pra treinar com os caras... Ia ser irado!
- Caraca, tinha esquecido. Não vou conseguir ir, mas boa sorte, lá, mano! Arrebenta os caras! De tarde a gente toma uma breja pra comemorar?
- Nem, tem Casa Cor no Jockey, última semana. Os ambientes desta edição estão imperdíveis. Saio do treino e vou pra lá... Vamo aí?

domingo, junho 21, 2009

Ácido e injusto, mas o Saramago pode

Li na Folha Online um comentário do Saramago sobre os blogs. Dizia que por causa deles, hoje se escreve mais e pior. Em que pese o fato de o autor premiado ter cultura e conhecimento fora da curva, há um pouco de realidade e um pouco de incompreensão nessa ácida afirmação.

Na verdade, o próprio autor do "Ensaio sobre a cegueira" se deixou seduzir pela blogmania e criou seu espaço (o endereço está e esteve desde que foi criado, há uns 6 meses, na minha lista de links aí do lado). A diferença é que o romancista Português não escreve diretamente no site, mas sim divulga seus posts através de um assessor. Mas mesmo tendo sucumbido ao novo canal de comunicação (mais por influência dos seus editores que por curiosidade própria), o autor afirma que dedica a cada post o mesmo cuidado dispensado a um romance (o que talvez não lhe permita compreender porque as pessoas escrevem de forma diferente na Internet).

De fato o texto de um blog tende a ser mais curto, informal e descompromissado com as regras da norma culta. Mas acredito que o que se perde em forma e rigor se ganha em inovação e criatividade. Os posts-pílula permitem que a gente conheça mais de seus criadores, vivencie seus dilemas existenciais e compartilhe suas opiniões de forma ampla, que raramente acontece na literatura escrita. Alguém conhece a visão de mundo do Saramago, exceto pelo que se vê nas eventuais entrevistas que ele conceda? Claro que não, simplesmente porque o meio escrito não viabiliza esse grau de intimidade, como faz o blog.

Um post tem múltipla finalidade: desabafo, confissão, autoentendimento ("o novo divã", como diz minha amiga), busca por compartilhadores de afinidades, desejo de expressão. E muitas vezes, mesmo um post curto, contém todos esses elementos juntos. E para atender a certas finalidades enumeradas, a dinâmica é mais importante do que o esmero, daí a imprecisão inerente do canal. Eu por exemplo, quando escrevo um texto um pouco mais longo e estruturado (como este), procuro fazê-lo com atenção à grafia. Mas quando comento ou crio posts com idéias curtas e voltadas para fim menos nobre, não raramente omito cedilhas e acentos, atropelo as ênclises e ignoro normas de estilo. E ainda assim, acredito que há ganho nessa opção.

Em outras palavras, não discordo totalmente do argumento do pai do "Evangélio segundo Jesus Cristo", mas acredito que o distanciamento e o baixo interesse em relação aos blogs acabaram por impedir seu pleno entendimento. Blogs são bons porque são imperfeitos e inesperados como a vida - aí está seu valor e sua graça.

Nem por isso deixarei de ler os romances (e o blog!) do escritor lusitano. Mas cabe ainda um último pensamento: não é estranho ouvir uma crítica à falta de formalismo do blog vindo daquele que construiu uma carreira na literatura em função da criação de um estilo inovador, inusitado e não formal de composição, baseado na destruição da pontuação e dos períodos da norma culta?

segunda-feira, junho 15, 2009

Novo clássico da Fraulein

Tive que desligar a maquina
para passa roupa si liga 2 junto
cai a xave nao secou o lenço deixei na
maquina ta

sexta-feira, junho 12, 2009

7 posts para os Namorados

Olhem aí embaixo os 7 posts que escrevi em homenagem ao Dia dos Namorados.
Por que 7? Porque este ano completei 7 anos solteiro... Ufa, finalmente acabou o castigo! Nunca mais vou beber sem brindar (nem brindar sem beber)!

Ultimato apaixonado

- Você tem 5 milhões de anos pra sair da minha vida!
- Ok, mas acho pouco tempo pra conseguir te esquecer...

Paixão de infância

- Você lembra de quando começou a gostar de mim?
- Não, eu não tenho lembrança de antes dos 5 anos de idade...

Epitáfio apaixonado

Desculpe, linda, vou ficar longe um tempo. Mas quando a gente se reencontrar, vai parecer uma eternidade!

Paixão suicida

- Se você me deixar um dia, eu me mato...
- Não tem problema. Se eu te deixar, já terei morrido. Aí eu te recebo no além pra a gente continuar junto pra sempre...

Paixão assassina

- Se você me deixar um dia, eu mato você!
- Se eu for burro a esse ponto, é melhor morrer mesmo...

Paixão sonâmbula

A moça volta a dormir, nos braços do namorado. Em sonho, ela puxa conversa:
- Você ainda me ama?
- Acho que sim, mas não dá pra ter certeza porque eu apaguei da minha memória como era viver sem você...

Paixão insone

A moça acorda repentinamente, abalada com o pesadelo que teve e assusta o namorado.
- Tá tudo bem?
- Nossa, tive um sonho horrível! Eu tava num lugar estranho, fétido, cercada de uma bando de gente asquerosa, apontando o dedo na minha cara e rindo de mim, me espezinhando, me expondo ao ridículo, jogando coisas na minha cara, segredos antigos, que eu mesma tenho vergonha de lembrar, às vezes... Nossa, foi péssimo. Eu não tinha pra onde fugir, nem conseguia me livrar daquilo... E você nem tava lá pra me ajudar...
- Eu tava lá, sim. Só não te tirei de lá antes porque eu sabia que era só um pesadelo. E eu não podia aparecer antes e ouvir as coisas que te envergonham, porque são segredos seus e eu não queria correr o risco de te fazer lembrar deles um dia. Mas pode deixar que eu gravei bem a cara daquela gente. Eles me pagam...

Como matemático, um cantor tapado

O Junior, irmão da Sandy-e-Junior e filho do Chitãozinho-e-Chororó, foi ao programa Irritando Fernanda Young. Lá, brindou os expectadores com uma dica lógico-matemática de deixar o Malba Tahan de queixo caído.

Afirmou o pequeno moicano que "estatísticamente" é mais fácil ganhar no par-ou-ímpar se você escolher par.

Por quê?

"É só pensar", sapecou a sertaneja mente brilhante.

"Se um põe PAR e o outro ÍMPAR, dá ÍMPAR.
Se um põe PAR e o outro PAR, dá PAR.
Se um põe ÍMPAR e o outro ÍMPAR, dá PAR.
Portanto, são 2 chances de PAR contra uma de ÍMPAR."

Não sei vocês, mas eu achei ele um asno.

terça-feira, junho 09, 2009

Furo de reportagem

Lembrei hoje de quando o finado Tom Jobim comentou, em entrevista concedida à TV Cultura, um acontecimento inusitado envolvendo o "mestre" Villa-Lobos.

Entre baforadas de charuto aspirado através de uma piteira que lhe havia presenteado o próprio maestro, Jobim narrava a empreitada de uma jornalista novata, na tentativa de extrair novidades em exclusividade do autor das Bachianas, abordando-o no aeroporto enquanto voltava ao Brasil de viagem aos Estados Unidos.

Não sabia a jornalista, ou teria ignorado tal informação, que o Villa-Lobos havia ido ao exterior para tratamento de saúde.

- Maestro, atualmente o que o senhor está compondo?

- Minha filha, eu no momento estou "decompondo"...

segunda-feira, junho 01, 2009

Ironia do destino

Como dizia o poeta, o acaso é um guri bem matreiro (no caso, o poeta sou eu mesmo - vejam aqui).

Digo isso porque vi nesta reportagem que a GM americana pediu mesmo concordata. E foi inevitável lembrar de quando fui trabalhar na subsidiária brasileira desta ex-gigante automobilística, em 1997, e, mais ainda, de quando pedi demissão, em 2000.

Lembro que quando pedi as contas, um colega de 50 e poucos anos, veterano do departamento de compras, daqueles que admirava o "seu Andre Beer" (famoso executivo da GM), comentou comigo:

- Você vai ter coragem de sair de uma GM pra ir pra uma empresa "ponto-com"?

Eu eu tive, pra espanto daquele comprador. Agora, menos de uma década depois, aquela gigante desmoronou. Enquanto isso, aquela ponto-com... bom, aquela ponto-com virou pó há muito mais tempo (não precisou nem crise financeira global).

O destino é mesmo irônico: de onde você menos espera, é dali mesmo que não sai nada...

As quatro estações do destino (ou Apocaliptica)

a sina é a primavera das estações do destino,
a que inicia um ciclo de incertezas e perigos:
para uns é regra,
para outros, senão.
mas todos convêm que sempre existe um senão.
se o sujeito distrai, descuida,
a sina desmantela as folhas, o caule e a muda.
— a sina é coisa que não se muda.

o acaso é um guri bem matreiro,
apronta o que pode com as gentes:
cutuca de um lado,
aperta do outro,
devagarinho chega aonde quer.
e quando se dá conta,
perdeu-se um amigo, um noivado, uma vida.
— o acaso pode acabar com uma vida.

a sorte é irmã caçula do acaso.
tem jeito de boazinha, a dissimulada:
finge que é benção,
que é graça divina,
redenção para o bom samaritano.
mas quando se olha bem no olho da bruta,
brota um gosto de fel, de saliva de cobra, de lama.
— a sorte pode levar o sujeito à lama.

o azar é o primogênito da família
dos quatro irmãos de má conduta:
vai direto ao ponto,
não tem firula.
se pode chutar a cabeça, ele chuta!
e não tem papo de veja bem, lero-lero.
o azar é maldito no começo, no meio e no fim.
— o azar quase sempre é o fim.