quarta-feira, fevereiro 25, 2009

Em tempo...

... tá chovendo cães e gatos, como dizem por aí. O indiano não tem chance comigo...

O indiano tá de rosca

Eu tô tentando, Deus é testemunha. Fui ao cinema pra ver o tal filme indiano (Quem quer ser um milionário?), mas a sessão estava esgotada. Curiosamente, na semana passada (antes do Oscar), o filme não estava passando em lugar nenhum. Como ganhou 8 estatuetas, a pessoa precisa chegar agora com 4 horas de antecedência pra conseguir lugar na sessão. Eu tô tentando ser imparcial, mas tudo conspira pra eu alimentar o preconceito e ser cada vez mais injusto e crítico contra esse filme indiano. Só falta chover pra cacete agora!

Poema degustativo: saboreiem com parcimônia

Nessa de resgatar meus poemas antigos, encontrei um com temática pseudogastronômica e crítica sobre a existência. Vejam lá se presta...

Receita para a vida
— Uma orgia gastronômica em prol do bem

encontre um copo,
de preferência largo e alto,
encha-o até a boca de certezas e convicções
e reserve, noutro recipiente, apenas uma dúvida
(uma só, que apesar de única pode ser a gota)

em uma vasilha grande e rasa,
untada com medo e farinha,
distribua punhados de insegurança
(guardando um bom espaço entre os montinhos):
veja como crescem e se fundem numa só mistura
que pode até estraçalhar a porcelana

leve ao forno pré-aquecido por uma paixão doentia
uma terrina com um polpetone de carinho;
cubra-o com ciúme à bolonhesa
e deixe cozer por uma vida:
o molho ferve, mas a carne permanece crua

ponha, enfim, os talheres à mesa:
à direita, faca de dois gumes
(para cortar comida e olho-gordo);
à esquerda, um tridente como garfo
(para aguçar a gula do glutão);
no centro, o prato principal: a vida

tempere-a com ervas e especiarias,
sálvia, manjericão, loro, cominho
—coentro, não!!!—
e engula-a sem mastigar,
dilatando a goela para que ela entre sem partir

como sobremesa,
ingira bons frutos de uma árvore frondosa
sob sua sombra;
nutra a alma com os instintos da razão
e não alimente os (instintos) animais

São Paulo, 6 de Janeiro de 2003

Essa é grouxa, mas é engraçada

Citação do dia:
Nunca esqueço de um rosto mas, no seu caso, abrirei uma exceção.
Grouxo Marx

A troca e o meu bambino

Madrugada da quarta-feira de cinzas. Voltei do cinema, depois de ver A troca, com a Angelina Jolie e o John Malkovitch. Filmão, daqueles que deixa a gente mais angustiado do que triste (embora a história seja de matar) e felizes por ver que a Angelina não apenas continua linda, mas virou uma grande atriz. Ela está tão bem e tão íntegra no papel, que nem parei pra pensar nela como uma mulher (im)possível e desejável - ficou sendo apenas uma mãe, desesperada para reencontrar o filho.

Talvez por conta do tema do filme (perda de um filho), voltei pra casa e lembrei de um poema que escrevi anos atrás. É sobre meu filho, que ainda não existe. Toda vez que leio algum texto meu tenho vontade de mudar, mas por uma questão de conceito, resisto. Segue abaixo o texto original, do jeito que deixei em 2002, quando o escrevi. Espero que gostem...

Bambino por vir
— Para meu filho (em fase de pré-projeto)

ele é gordinho e levado,
como o pai infante,
o rosto redondo e corado,
como do pai adolescente,
a pele branca, alabastro,
como do pai de sempre...
(da mãe lhe são os olhos d’água
e tudo que traz dentro do peito e cabeça...)

adora música
(herança congênita ou genética?),
e sorri em minha direção,
depois da fralda limpa,
sorriso lindo,
alegria como dentes pois estes não os tem,
e me abraça apertado,
como o nó que me põe na garganta
quando pronuncia (errado) meu nome
ou quando dança (desengonçado) ao meu som preferido...

ele é forte —saúde férrea!
é valente —coragem de aço!
é lindo —beleza cristalina da pedra mais preciosa que houver...
é tudo isso e mais aquilo que exista
de bom,
de positivo,
de sublime,
pois é meu filho!

que ainda não vive,
não habita minha casa,
nem me tira o sono na noite em que deste mais preciso...
pode ser o oposto do que digo ser,
ser até o contrário do que quero crer,
pode mesmo não ser ele, mas ela,
e ainda será divino,
o perfeito bambino,
que um dia pretendo ter...

(por hora,
é ele que me beija a testa antes de eu ir dormir...)

São Paulo, 22 de Outubro de 2002

segunda-feira, fevereiro 23, 2009

Oscar marmelada é começo do fim

Tenho feito comentários precipitados ultimamente e depois me arrependo. Isso pode acontecer de novo agora, mas vou dar minha cara pra bater assim mesmo.

Não vi o "Quem quer ser um milionário?", ganhador absoluto do Oscar 2009. Levou 8 brasilinos, incluindo o de melhor filme, que é a estatueta mais cobiçada. Como não vi o filme, não deveria por em cheque tamanho sucesso - de repente a película é mesmo especial. Mas achei que rolou certo exagero concentrado, como acontece de tempos em tempos em Hollywood.

Os indianos são reconhecidamente inteligentes, sobretudo nas ciências exatas. Parece que Deus foi mesmo benevolente em QI quando desenhou os genes mais comuns naquele povo. Mas a sétima arte indiana, conhecida como Bollywood, só tem pujança economicamente falando. São 16 milhões de ingressos vendidos por dia, por uma população de pouco menos de 1,2 bilhões de habitantes. Não estamos falando de qualidade artística que se destaca em relação ao resto do mundo. Estamos falando de pressão econômica que movimenta uma indústria com baixíssimo investimento e alto retorno.

Vi algumas cenas (Internet, TV, Oscar) do filme e achei o que sempre acho dos filmes indianos: feito para eles. Mesmo com a parceria de ingleses, achei as entonações, os enredos, as técnicas empregadas, tudo muito oriental pra me convencer. Mas curiosamente, convenceu a maior indústria cinematográfica (ou pelo menos seu juri).

Não sei se foi implicância conspiratória minha, mas achei que a cada anúncio de estatueta para os indianos (com ingleses infiltrados), mais caras de espanto apareciam na platéia. Mesmo os maiores atores do planeta não conseguiam disfarçar a surpresa... Aqui em casa a opinião foi unânime: teve marmelada nesse Oscar!

E o argumento final que praticamente prova de forma irrefutável minha teoria anglo-curry-conspiratória: até a estatueta de melhor atriz não foi pra Meryl Streep! E quem venceu em seu lugar? Kate Winslet, uma inglesa, isto é, aliada dos indianos, que estão prestes a dominar o mundo (começando pelo cinema)...

Esse negócio de países emergentes, BRIC e etc está fazendo com que os países que sempre tiveram a cabeça no lugar percam o controle. Pelo sim, pelo não, decidi: não vejo mais filme oriental, nem com legendas em inglês. Eles podem conter mensagens subliminares que vão me levar a perder o juízo, inventar teorias persecutórias... merda, acho que já estou ficando maluco...

Dica de Carnaval: Cool Jazz



The Instrumentals (1999)
George Benson

Em pleno Carnaval, a festa mais celebrada por quase todo brasileiro, recomendo ouvir este álbum instrumental do guitarrista de jazz mais pop dos Estados Unidos. George Benson ficou famoso, para alguns, com o hit On Broadway e, para outros, com a "polêmica" envolvendo o Jorge Bem.

Pra quem não lembra nem do George Benson, nem da polêmica, explico: o nosso malemolente compositor carioca, cujo nome artístico havia sido por décadas "Jorge Bem", alegou, na década de 80, quando estava passando por uma fase de ostracismo, que foi obrigado a mudar o nome para "Jorge BenJor", a fim de diferenciá-lo do guitarrista americano. Segundo Benjor, o flamenguista estaria perdendo vendas para o jazzista ianque, cujo nome, pronunciado rapidamente, parecia (segundo ele) o de Jorge Bem. Assim, pessoas que queriam comprar CDs do carioca, levavam por engano os hits do americano. Claro que isso foi uma grande mentira, mas ajudou Benjor a ressurgir das cinzas para gravar um CD meia-boca (Jorge 25) e desaparecer novamente logo em seguida.

Enquanto isso, George continuou com sua pouco conhecida carreira, gravando umas bobagens por aí. Este álbum que estou indicando para o Carnaval é um que foi lançado mais ou menos na época que o Benjor inventou a babozeira. E vejam que o "malicioso guitarrista" se aproveitou de mais um sucesso brasileiro. Ele grava Dinorá, Dinorá, de forma que nem mesmo o Ivan Lins seria capaz de reproduzir. Mas tudo bem, a gente continua escutando esse "ladrão de carreiras" assim mesmo. E mesmo durante o Carnaval...

quarta-feira, fevereiro 18, 2009

Fondue no rabo dos Brasileiros I

Pois é. Isso é pra eu aprender a calar a boca. Quem leu meus comentários anteriores (este, este e este outro), vai entender por que estou arrependido. Eu cometi o mesmo erro que o Jornal Nacional, o chanceler Celso Amorim e outros brasileiros que, antes mesmo de ter provas, saíram em defesa da brasileira "torturada", acusando a justiça e a polícia Suíças de corpo-mole.

Está ficando cada dia mais aparente que a brasileira mentiu. Não sabemos ainda quanto, muito menos por quê, mas há fortes indícios de que ela não estava grávida, não foi atacada por neonazistas e se automutilou. Só nesses detalhes ela teria mentido. Pra não cometer injustiça de novo, vou aguardar pra comentar novamente este caso. Mas no jornal de hoje (aqui), ainda que sem confirmação, os indícios estão cada vez mais claros.

Puta que me pariu! Se isso for verdade, que povo de merda que nós somos! Até pessoas com dinheiro, emprego e saúde resolvem pirar e ir pro exterior comprometer nossa imagem. A sorte é que essa mentira foi inventada contra suíços e não árabes. Caso contrário já teríamos scuds voltados pro nordeste brasileiro...

domingo, fevereiro 15, 2009

Voz miltoniana



Renato Braz - Edição Especial 10 Anos (2008)
Renato Braz

Este cantor apareceu pra valer no cenário musical em 2002, quando venceu o segundo Prêmio Visa Edição Vocal. Chamava atenção sua voz, muito firme e afinada, com um timbre que lembrava o Milton Nascimento nos seus melhores dias.

Não conheço outros discos do cantor que eu sempre achei que fosse mineiro, mas descobri que é paulistano mesmo. Este CD de 2008, que é uma reedição, traz uma coletânea ótima de canções que mostram o melhor do intérprete. Pode parecer viadagem, mas fico arrepiado quando escuto Onde está você, que foi a canção vencedora do festival citado. Ele faz duas passagens a capela que são de eriçar o pêlo. Ok, o comentário foi meio boiola, mas ouçam e me digam se tenho razão ou não.

Do mesmo álbum, ainda valem muito a pena Mantiqueira, Anabela, Todo menino é um rei e Beatriz - estas duas últimas lembram demais a voz do Milton, podem checar.

E buscando algum link no youtube pra ilustrar a voz desse cantor encontrei uma cena bizarra. Parece uma apresentação intimista, em que o Renato Braz aparece de croque preto e meias rosas. Fica difícil prestar atenção na música sem rir, mas é uma interpretação ao vivo de Anabela - mas a do CD é muito melhor.

Um som mó louco



Do you like my tight sweater? (1995)
Moloko

Quem me conhece sabe que eu não sou exatamente um amante da música eletrônica, embora volta e meia eu encontre algo que me empolgue.

Neste caso, o álbum é bem antigo, de uma banda que é um duo na verdade, Moloko, meio Irlandês (ela), meio inglês (ele), e teve apenas duas músicas que fizeram sucesso.

A primeira foi graças a uma propaganda que veiculou na mídia no final da década de 90 (não lembro qual era a propaganda; se lembrar, deixe um comentário, please). A canção Fun for Me é a melhor referência para quem, como eu, não é grande conhecedor de música eletrônica. Os letrados em pistas e haves deverão reconhecer a banda Moloko por conta de outro hit, Sing it Back, que saiu mais perto do ano 2000 e virou sucesso nas baladas da Espanha.

O curioso é que a vocalista tinha um quê de Bjork sob efeito de ecstasy e um visual meio Elton John. Mesmo com o visual alternativo, nunca mais ouvi nada dessa dupla, nem ouvi tocar mais este hit antigo. Acho que esta era uma daquelas bandas de um sucesso só (ou dois).

Fondue no rabo dos Suíços III

Esta história da brasileira grávida (ou não) que foi torturada (ou não) na Suíça está me deixando realmente irritado. No início a irritação era apenas pelo bizarro da história em si. Agora é pela possibilidade de ser real a versão ainda mais bizarra de não ter havido ataque algum.

Se já era difícil conceber uma agressão daquela natureza por xenofobia, agora ficou ainda pior aceitar a barbaridade da autoflagelação. Ainda não consigo acreditar na versão Suíça. Mas já começo a temer que o Brasil, através de seus malucos soltos pelo mundo, tenha conseguido destruir ainda mais sua imagem.

Os jornais Suíços, além de dizer que o caso foi uma farsa, estão afirmando que "a gravidez inventada seria técnica comum no Brasil para mulheres que querem pressionar seus maridos" (leia isso). De vitimas estamos virando motivo de chacota internacional.

sábado, fevereiro 14, 2009

Minha estréia foi com Medo de avião


Medo de Avião (1979)
Belchior

Belchior é um cantor-compositor cearense que pertencia ao mesmo grupo de músicos vindos de Fortaleza de que fazia parte o Fagner. Este último eu confesso que não suporto, nem como compositor, nem como intérprete. Mas pelo Belchior sempre tive simpatia e apreço, mais como letrista que como vocal.

O álbum Medo de Avião talvez não seja o preferido daqueles que conhecem a carreira desse cearense de bigodes, mas pra mim acabou tendo um valor diferente. Foi o primeiro LP que eu comprei por escolha própria, na loja de LPs que exisita no Carrefour da Marginal Pinheiros, próximo de casa. Eu tinha 7 anos na época, quem pagou o LP foi minha mãe, mas a escolha foi só minha - acreditem se quiserem!

Eu tinha ouvido a faixa título Medo de Avião cuja harmonia com baixo cromático e ar de Beatles tinha me deixado intrigadíssimo. Depois, acabei curtindo todas as canções, com destaque para Pequeno perfil de um cidadão comum e Comentario a respeito de John.

Eu gostava particularmente da faixa Brasileiramente linda, que não fez sucesso algum, mas a letra me intrigava, pois era escrita de uma forma gráfica diferente, que eu admirava e achava inovadora, sem saber que era uma ideia oriunda do concretismo brasileiro. Não encontrei na Internet o desenho da letra e já não tenho mais o LP pra poder scanear. Se alguém encontrar uma letra do Belchior que parece um poema do Haroldo de Campos, entenderá na hora a que me refiro.

quinta-feira, fevereiro 12, 2009

Fondue no rabo dos Suíços II

Só pra dizer que continuo com raiva da falta de atitude dos Suíços em relação ao (des)caso da brasileira torturada (leia aqui).

Agora, parece que os jornais suíços estão em dúvidas sobre a veracidade da versão da recifense. Ora, putaquemepariu, alguém acha mesmo que a moça ia se autoflagelar e matar os dois filhos que tinha no ventre só pra inventar uma pseudoteoria xenofóbica contra os "monstros" suíços?

Eles só podem estar brincando... até este incidente, nenhum brasileiro tinha nada a reclamar do povo comedor de raclete, conhecidos por serem neutros. Agora, vemos que são neutros, inertes, ineptos, inaptos, insossos, incrédulos e indiotas!

Fondue no rabo deles, de novo!

quarta-feira, fevereiro 11, 2009

Novos rumos da palavra cantada



Rumo (Ao Vivo) (2006)
Grupo Rumo

Este som vai soar meio indigesto pra muitos, mas eu não posso deixar de recomendá-lo fortemente. Não é um som fácil pois foi concebido a partir de um conceito e não para agradar. Qual conceito? O de que é possível cantar de forma agradável sem afinação, desde que se garanta a entonação certa.

Uns garotos talentosos, que estudavam música na Escola de Comunicação e Artes da USP no final da década de 70, resolveram explorar o terreno da semiótica, da linguística (adeus, trema) e a relação dessas duas áreas com a música. Mas não fizeram tese acadêmica, não. Criaram o Grupo Rumo, que chegou a fazer algum sucesso, ainda que restrito a um pequeno grupo de meio intelectuais, meio de esquerda.

Um dos principais criadores desse movimento (chegou a ser chamado assim na época) é o Luiz Tatit, que eu considero a figura mais interessante daquele bando. Ele é um compositor-intérprete elaborado e preciso. Não é vituoso, nem exagerado. Também não é óbvio, afinal a música deles nem era considerada música por muitos. Mas ele ilustra o conceito que defende em cada nuance de qualquer composição - taí, ele é consistente e fiel (ao conceito). Não é genial, nem essencial, mas é constante.

Pra começar, recomendo que busquem no YouTube os vídeos do Rumo. Há vários lá, pois recentemente lançaram um DVD com revivals, mas acho que as músicas que melhor ilustram o estilo são Carnaval do Geraldo, Delírio, Meu e a sensacional Essa é pra acabar!. Detalhe importante: quem canta nesses vídeos é a Ná Ozetti - que eu não suporto! O próprio Tatit cantando é imensamente melhor.

Recentemente, o Luiz Tatit e o Paulo Tatit (sim, claro, são irmãos) partiram pra caminhos distintos, mas semelhantes. O Luiz (é o de barba) tem gravado álbuns-solo, mantendo sua constante qualidade de cantar falando. O Paulo liderou um grupo que tentou modernizar o conceito, mantendo seu cerne sob uma carcaça renovada, conhecido como Palavra Cantada. Acho que ambos merecem posts específicos, portanto, paro por aqui - pra não perder o Rumo...

Fondue no rabo dos Suíços

Tive a felicidade de conhecer alguns países da Europa (poucos na verdade). A Suíça foi um deles e, nesse caso, posso dizer que conheci bem pois fiquei 2 meses por lá, passeando por 10 cidades.

Minha percepção geral era de um país fantástico. Gente educada, com a vida ganha e aquele jeito de quem já tem pedigree, não precisa se rebaixar.

Mas esse primeiromundismo parece ser válido somente durante as vacas gordas. Na época de dificuldades, a máscara cai. Tô escrevendo duramente pra criticar a Suíça, mas sei que acabo sendo injusto. O motivo foi a barbárie cometida por 3 idiotas adeptos de um partido neonazista, contra uma brasileira, que morava lá legalmente, trabalhava numa multinacional, mas carregava no corpo as marcas de sua brasilidade (pele morena).

Além da brasilidade, ela carregava dois gêmeos em seu ventre, perdidos após 15 minutos de espancamento. Com o corpo retalhado e uma dor enorme e eterna na alma, a brasileira (que estava lá legalmente!) tenta se recuperar do choque, enquanto as autoridades suíças parecem nem ligar para o incidente.

No meu caso, não sofri nenhuma discriminação, nem assédio, nem ofensa, muito menos agressão. Somente fizeram de tudo pra dificultar meu visto, quando a crise financeira nem havia começado. Mesmo assim, senti-me profundamente ofendido e vitimado ao ver uma brasileira sofrer tanto, sem razão alguma.

Primeiro dificultaram a entrada na Espanha. Depois, começaram a agredir brasileiros e outros turistas verbalmente em Londres. Agora, espancaram uma brasileira na Suíca. Vamos fazer o seguinte, quando aparecer gringo por aqui, vamos descontar na mesma moeda pra eles verem como é bom?

Sei lá, nem consegui organizar muito as idéias, mas fiquei bem puto com essa história. Tenho muitos amigos e conhecidos indo pra Europa em condições semelhantes (trabalhando em multinacionais, entrando legalmente) pra ficar tranquilo vendo isso.

Só resta acompanhar as ações do Itamaraty na apuração desse absurdo. Até perder a raiva, nada de fondue e Lindt. Só quero feijoada e quindim! E deixa um Suíço aparecer aqui no Carnaval pra você ver o pedala que eu vou dar no filho da mãe!!!

Link para a notícia: aqui

terça-feira, fevereiro 10, 2009

A palavra do Presidente

Dia desses, nosso genial Presidente Lula declarou:
O Obama, de nós todos, é quem tem o maior pepino.

Lula, não fique triste: o Obama é descendente de africanos...

segunda-feira, fevereiro 09, 2009

Intronizado na alma a marteladas


Alma (1986)
Egberto Gismonti

Lembrei-me ontem do impacto exercido sobre a minha alma pelo álbum homônimo que o multiinstrumentista fluminense Egberto Gismonti entregou ao mundo em meados dos anos 80. Eu tinha 14 anos, comprei o LP sem saber direito o que ia encontrar. Mas o efeito foi estrondoso, desde o primeiro acorde - um rotundo ré bemol martelado no piano sob a fúria de Baião Malandro, faixa de abertura do álbum, uma das minhas faixas preferidas e uma das mais famosas do compositor.

Eu nunca tinha ouvido nada daquela natureza no piano e, confesso, este instrumento nem era o que mais me movia o espírito - lembrem-se que sou violonista desde o berço. Mas a interpretação às vezes exagerada, às vezes enigmática desse compositor filho de árabe e italiana fez-me ouvir o som do piano e a música instrumental de forma diferente. Havia ali um pouco de cada influência visível no músico: a grandiloquência das harmonias italianas; as intempéries provocativas das escalas mouras; o uso de clichês melódicos do cancioneiro popular brasileiro; e um visual cigano peregrino, situado em algum sítio entre Cádis e a costa Amalfitana.

Virei fã desse músico hermético, virtuoso e recorrente - minha maior crítica é sua repetição desenfreada de composições em seus álbuns. Comprei os títulos que encontrei, driblando a dificuldade de serem quase todos editados por um selo europeu alternativo que vendia seus discos no Brasil a preços proibitivos. O advento da pirataria semi-consentida dos mp3 permitiu-me completar a coleção de mais de 45 álbuns próprios.

Náo tenho a pretensão nem o intuito de convercer ninguém a gostar do Egberto da mesma forma que eu. Mas se você só tiver disposição para ouvir um álbum dele, ouça Alma e não se arrependerá. E se só quiser investir 10 minutos com este estranho músico, ouça Palhaço e 7 Anéis. Isso pode mudar a sua vida.

Incerteza e fantasia na telona

Dois filmes da temporada que qualquer pessoa com cérebro e coração não pode perder:


O curioso caso de Benjamin Button (2008)
David Fincher

Cate Blanchet e Brad Pitt estão muito convincentes em personagens nada comuns. Efeitos especiais ajudam a manter a fantasia pulsando até o final previsível mas emocionante. Inconformismo no início de uma vida de idoso e tristeza no fim de um ancião prenatal eram esperados, mas a habilidade no trato dos desencontros do meio do caminho fizeram o diferencial emocional da versão cinematográfica do conto.


Dúvida (2008)
John Patrick Shanley

Meryl Streep e Philip Seymour Hoffman são a dupla monástica mais espetacularmente bem interpretada que eu vi no cinema. Personagens bastante comuns mas interpretados com brilhantismo e respeito. História complexa, com poucos personagens, que poderia ter sido feita no teatro sem prejuízo algum para o enredo. Vamos ver quem vai levar os outros Oscares porque o de melhor atriz é dela (senão é marmelada).

quarta-feira, fevereiro 04, 2009

Mas eu te disse, eu te disse...

Tenho uma amiga muito legal e muito competente no que faz na vida (neuro-psicóloga e manicure). Não sei se por competência profissional ou se por amizade (tá bom, eu sei: ambos!), ela notou, de uns tempos pra cá, uma degradação crônica na minha capacidade de conviver comigo mesmo e meus demônios. Recomendou-me buscar ajuda profissional: psiquiatra (curto prazo), terapeuta (estrutural) e veterinário (pela piada, que eu nunca perco).

Não sei se por influência ou se por obviedade, eu notei, de uns tempos pra cá, uma degradação crônica na minha capacidade de conviver comigo mesmo e meus demônios. Mas nada fiz a respeito além deste post: nem no veterinário eu fui. E toda vez que o processo crônico tem um surto agudo, lembro da recomendação da minha amiga.

Tô errado, tô ciente. Tá nos planos dar um jeito nisso, nem que seja aos poucos, só pra eu voltar a dormir tranquilo (e sem trema). Já tenho o número de um veterinário...

A fabulosa

Pra se sentir bem, aperte play.

PLAY

domingo, fevereiro 01, 2009

Preguiçoso mas tenaz

Acabei de assistir a uma entrevista na GloboNews do Zeca Camargo com o Benicio del Toro e o Rodrigo Santoro sobre o filme Che, que conta a vida do líder e guerilheiro argentino. Nesta versão, Benicio é Che e Santoro faz uma ponta (como sempre) como o irmão mais novo de Fidel Castro, responsável por viabilizar o encontro dos dois revolucionários.

Pessoalmente, acho o Santoro bastante esforçado mas pouco talentoso. Pra não parecer que estou pegando no pé dele gratuitamente, descrevo os fatos novos, que vieram da entrevista, que me motivaram a este post.

O Rodrigo soube da possibilidade de participar do filme 5 anos antes de ser chamado efetivamente. E ele, através do agente, insistia direto pra obter um papel. Cinco anos de insistência depois, ele consegue uma entrevista, pra tentar o papel. E quase se caga todo porque não sabia falar uma palavra em espanhol.

Puta que me pariu! Ele teve cinco anos, é ator que está tentando uma carreira internacional e não foi estudar a merda da língua! Tinha mais é que se fuder e perder o papel pra um Cubano qualquer.

Além de preguiçoso é mal assessorado. Se eu sou o agente dele, contratava um professor ambulante pra pegar no pé do babaca 24hs. Ou melhor, 12hs, porque nas outras 12hs ele ia ter que aprender inglês, igual ao de qualquer outro latino que vai pra Hollywood (Benicio, Banderas, Penélope etc). Na boa, essas 2 línguas pra quem quer ter carreira internacional são básicas! E os hispânicos têm a vantagem de já saber uma delas. Então, malandro, brasileiro tem que correr atrás com força!

Outro sintoma de preguiça: não faz a lição de casa. No dia da entrevista, Rodrigo foi "a caráter", segundo ele mesmo declarou. Deixou uma barba enorme e foi falar portunhol, achando que ia arrebentar. Logo de cara falaram pra ele: "que barba é essa? O irmão do Fidel só tinha bigode, a vida inteira". Por preguiça e falta de assessoria, ele pagou mico. Na boa, com 2 minutos de Google, qualquer um conseguiria essa informação.

Apesar de pouco talentoso, preguiçoso e mal assessorado, o Rodrigo tem a felicidade de ser lindo. E a beleza facilita a vida de qualquer ser humano. E tem outra qualidade: é persistente e esforçado. O próprio Benicio disse que ele chegou sem falar palavra em espanhol, mas encheu tanto o saco de todo mundo que acabou fazendo a ponta dele com um sotaque bastante convincente. O que não convence é ter um bonitão daquele, com cara de quem tomou iogurte desnatado a vida toda, no meio dos revolucionários.

Espero um dia morder a língua e ver o bonitão bombando no cinema internacional. Até o momento, o que vi dele deixa a desejar como ator e me dá dúvidas em relação a vê-lo como um Benicio ou um Banderas um dia. Mas talvez sua tenacidade lhe proporcione sucesso e o faça vingar - afinal, nem só de talento vive o cinema. Viva Che!